"Tentei auto-extermínio por duas vezes", diz jovem, que relata a sua história no mês de prevenção ao suicídio
No Brasil, 32 pessoas se matam por dia, alerta campanha do mês setembro amarelo
Maio de 2016, noite em Belo Horizonte. Chorando em seu quarto, uma menina de 18 anos, cheia de marcas de mutilações pelo corpo e desgastada pelas crises, se embebeda de remédio, não para se curar, mas para tirar a própria vida.
Ela havia deixado uma carta de despedida que nunca foi lida. Bianca, nome fictício para preservar sua identidade, não conseguiu êxito na sua segunda tentativa de suicídio e queimou a carta antes de alguém lê-la.
Não foi apenas a carta de Bianca que não foi lida. Por muito tempo, os problemas que ela enfrentava também foram invisíveis para a família e amigos, que não sabiam lidar com o seu sofrimento. “Minha última tentativa de suicídio foi após uma visita da minha mãe. Eu estava muito mal, mas ela não percebia”, disse a jovem, diagnosticada com transtorno de ansiedade após a segunda tentativa de suicídio.
Bianca enfrentava conflitos internos em relação ao seu corpo. “O que me prejudicou bastante foi a minha não aceitação corporal. Eu me sentia gorda ao extremo, me sentia feia, achava meu cabelo feio. Com o passar do tempo, isso virou uma obsessão. Eu me sentia desconfortável para sair à rua e acabei me isolando. Fui levada ao hospital algumas vezes com ataque de pânico, por medo de coisas bobas, como atravessar a catraca do ônibus”, lembra.
Outro obstáculo que contribuíu para o agravamento do quadro da estudante foi a pressão de estudar e trabalhar, que gerou desgaste físico e psicológico, como ela mesma diz. “Com o tempo eu acabei não conseguindo lidar com tudo isso. Mas ao ver que todo mundo ao meu redor dava conta, eu ultrapassava o meu limite para conseguir”.
Ultrapassar os limites eram dolorosos para Bianca, que só queria ficar deitada em paz, sem falar com ninguém e enterrada em seus medos e frustrações, se auto mutilando com frequência para transferir a dor psicológica para o corpo e aliviar a mente da ansiedade e tristeza. “No início não era frequente. Mas, com o passar do tempo, comecei a me machucar cada vez mais e de forma mais agressiva. Cheguei a ficar com dificuldade para andar por causa dos ferimentos. Na maioria das vezes eu me cortava com lâminas, mas também já me queimei, me arranhei, me mordi… cheguei a me esfregar em parede de chapisco”, relata.
As marcas de Bianca pelo corpo eram também feridas abertas para julgamentos. “No início foi bem complicado. Ouvi frases como ‘você tem que se amar mais’, ‘você está deixando a doença te consumir’, ‘vá para igreja’…”, conta Bianca.
Hoje com 20 anos, as marcas no corpo fazem parte do passado de Bianca, que superou as tempestades com medicação, terapia, alimentação, exercícios físicos e conversas. “Falar sobre o que estava acontecendo com as pessoas que realmente me importam diminui o fardo”, diz. “Hoje, muitas pessoas me procuram para falar sobre o que sentem. Eu acabo falando o que eu gostaria de ter ouvido. Normalmente essas pessoas tem baixa autoestima e pouca confiança. Tento passar um pouco disso para elas, tento ajudar como posso”, afirma.
“Não faço muitos planos, não sei lidar muito bem com o excesso de futuro”, diz Bianca em meio a risos, ao comentar que pelo menos um caminho ela já sabe qual seguir após o cursinho. “Quero o fim da desigualdade de classes (risos), e quero também me formar em psicologia. Tive certeza disso após começar a terapia. Tenho certeza que posso ajudar outras pessoas que passam pelo o que eu passei”.
Sorridente, ela deixa claro que hoje sente prazer em viver. “Hoje em dia eu me sinto ótima. Sou uma pessoa muito diferente, aprendi a dar valor as coisas simples, ter mais contato com as pessoas. Ainda tomo a medicação e faço terapia, mas já não tenho mais sintomas. Me sinto recuperada. Também faço atividade física, corro por prazer e estudo muito. Isso me ajuda”, afirma.
Setembro Amarelo
Bianca tem um presente feliz, longe do fim, pois ela quer viver muitos anos. Mas essa não é a realidade de superação de muitas outras pessoas que morrem precocemente.
No Brasil, 32 pessoas morrem por dia em decorrência do suicídio. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), nove em cada 10 casos podem ser evitados. No Brasil, desde 2014 é realizada a Campanha Setembro Amarelo, de prevenção do suicídio.
Neste domingo (10/09), Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, aconteceu a caminhada do Setembro Amarelo, na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte. O evento foi organizado pela Associação Mineira de Psiquiatria (AMP) e pela Faculdade de Medicina da UFMG, em parceria com o Exército Brasileiro e o Centro de Valorização da Vida (CVV).
“A campanha mostra a existência do suicídio é uma questão muito grave. O suicídio está vinculado com doenças de transtorno mental e é possível ser evitado”, afirma o médico Paulo Roberto Repsold, diretor da AMP. “Todos somos vulneráveis a doenças do tipo. O uso de drogas também pode contribuir com quadros desesperadores. A campanha alerta para estes fatores e para a prevenção, além de colaborar para diminuir o preconceito com o tema”.
Repsold explica que a melhor maneira de evitar o suicídio é ter o diagnóstico certo do paciente e tratá-lo de forma eficaz. “Temos que ficar atentos com pessoas que falam sobre morte, tristeza, e identificar qual a situação da pessoa. Precisamos atuar precocemente e com o diagnóstico certo podemos ajudar e prevenir o suicídio”, disse.
Aliado ao tratamento profissional, Repsold aponta outras atividades necessárias para a prevenção do suicídio. “O esporte, o lazer, a alimentação saudável e a família são fortes aliados no tratamento, pois tudo isso aumenta a resistência da pessoa, tornando benigno o curso da doença. Apoio psicossocial e emocional são importantes. Já uma pessoa que não tem uma vida saudável, e nem o apoio da família, terá mais dificuldade” afirma o doutor.
CVV – Centro de Valorização da Vida
“Serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio”, essa é a proposta do CVV para ajudar pessoas em condições vulneráveis ao suicídio. Atuante desde 1962, o CVV realiza mais de um milhão de atendimentos anuais, por meio de aproximadamente dois mil voluntários em 18 estados, mais o Distrito Federal, através de chat no próprio site, Skype, telefone, e-mail ou presencialmente.
Publicado originalmente no Portal O Beltrano
Talento e criatividade: Mostra Científica da ANPG reúne jovens cientistas
A Mostra Científica da ANPG fez parte do 5ª Salão de Divulgação Científica e ocorreu dentro da 69ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), maior encontro de ciência do país
Do comportamento dionisíaco e apolíneo do carnaval de Salvador a polêmica pílula do câncer. Diversidade, inovação e sustentabilidade foram os conceitos dos trabalhos apresentados na Mostra Científica do V Salão Nacional de Divulgação Científica da ANPG (Associação Nacional de Pós-Graduandos). Em 18 e 19 de julho, graduandos, pós-graduandos, mestrandos e doutorandos defenderam ideias em diversas áreas da ciência na Escola de Engenharia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
Divididos em cinco salas, mais de 100 trabalhos foram apresentados com destaque, entre outras áreas, para saúde, sociais aplicadas, artes, linguística, exatas, engenharia e educação. Teve estudos sobre música, comportamento, tecnologia, doenças, animais e grande eventos. Entre eles, o trabalho “Traços de comportamentos dionisíacos em um carnaval apolíneo”, do filósofo Ygor Borba de Oliveira.
Da UERJ (Universidade Estadual do Rio de janeiro), Diogo Santos, Danilo Oliveira, Hamilton Santos, Vitor dos Santos, Hugo Boareto e Marcelino José apresentaram o “Projeto Uirapuru -X: democratizando tecnologias na área de análises de fluorescência por raios-X”. Os estudantes produziram uma máquina que identifica a composição elementar do que é analisado. “A máquina pode ser aplicada nas áreas de geologia, patrimônio cultural em museus, biomédica, amostras biológicas, entre outros estudos”, explica Diogo.
Os autores do projeto, premiados na Mostra Científica com menção honrosa na área de exatas, fizeram uma demonstração do funcionamento da máquina para avaliar a composição de uma moeda e explicaram que já existe um modelo semelhante, porém, fora do Brasil. Segundo Diogo, uma máquina com a mesma capacidade pode custar até € 300 mil. “Criamos essa máquina gastando menos de um décimo do custo de uma máquina no exterior e ela nos deu um resultado melhor do que muitas que são vendidas. Além disso, o nosso produto é brasileiro, mais leve e fazemos assistência técnica aqui mesmo, sem precisar vim de outro país. O nosso produto é competitivo”, finaliza, Diogo, confirmando o nome da máquina como uma homenagem ao Brasil.
Ao final das apresentações os expositores trocaram informações sobre os trabalhos e discutiram, entre outros assuntos, a importância do debate e o futuro da ciência. “A Mostra é importante para divulgação do conteúdo científico dos alunos e também o possibilita participar de um grande evento para promover, circular e compartilhar conhecimento”, explica o enfermeiro e diretor de universidades estaduais da ANPG, Márcio Cristiano de Melo.
Outros trabalhos apresentados na mostra científica
Alterações metabólicas e risco cardiovascular em pessoas vivendo com HIV/AIDS sem o uso de antirretrovirais
Um grupo formado por Mariana Amaral Raposo, Geyza Nogueira de Almeida Armiliato, Camila Abrahão Caram, Nathalia Sernizon Guimarães, Raíssa Domingues de Simoni Silveira e Unaí Tupinambás são autores do trabalho “Alterações metabólicas e risco cardiovascular em pessoas vivendo com HIV/AIDS sem o uso de antirretrovirais”. No estudo, feito em 2012, em Minas Gerais, foi possível identificar alterações metabólicas na população com HIV/AIDS (PVHA) antes do início da terapia antirretroviral (TARV), principalmente por baixos níveis séricos de HDL-colesterol, hipertrigliceridemia e obesidade abdominal.
Segundo Mariana Amaral, o acesso à terapia antirretroviral mudou o quadro de epidemia no Brasil e no mundo e, junto com a melhora na qualidade de vida e sobrevida da população com HIV/AIDS, aumentou o número de doenças não infecciosas. “O trabalho aponta para a necessidade de se avaliar e conhecer o perfil metabólico de pessoas que vivem com HIV/AIDS antes do início da terapia antirretroviral como forma de prevenção de futuras alterações metabólicas. A introdução da TARV pode potencializar a dislipidemia conferindo aumento do risco cardiovascular, principalmente entre aqueles com riscos clássicos para doenças cardiovasculares”, diz a mestranda da UFMG que apresentará o trabalho.
Cânhamo: um recurso economicamente sustentável
Substituir o algodão e o eucalipto pelo cânhamo com foco na sustentabilidade. Essa é a proposta das baianas Eline Matos, mestranda de economia da UFBA e Marina Amaral, graduanda de sociais da UNEB. A dupla explicou que já existem vários produtos fabricados a partir da planta derivada da Cannabis, como carro, papel, tênis, óculos, cereais e cosméticos. “Estamos fazendo este trabalho baseado numa perspectiva ecossocialista que pretende ampliar a luta em favor do meio ambiente e anticapitalista. É uma matéria prima rica em proteína, firme e pode ser usada em “N” possibilidades, ainda tem a vantagem de ser um recurso economicamente sustentável”, explica, Marina.
Na apresentação foi mostrado os impactos ambientais do algodão e do eucalipto e as vantagens de substituir pelo cânhamo. “O eucalipto consome muito agrotóxico e pesticidas que contaminam o solo e diminuem os mananciais e lençóis freáticos. O cânhamo já faz o papel contrário, pois nutre o solo”, afirma Eline. As estudantes esbarram na proibição da Cannabis para continuar as pesquisas. “Tem o lobby das empresas madeireiras que atrapalham para a substituição e os nossos estudos foram a partir de resultados feitos fora do país, então a maior dificuldade é que não dá para trabalhar com algo que é proibido”, finaliza Marina.
A vulnerabilidade da sociedade brasileira diante do uso da fosfoetanolamina tendo em vista a teoria principialista
Apontada como solução do câncer por alguns e motivo de desconfiança por outros, a polemica pílula do câncer também foi tema de trabalho na Mostra Científica da ANPG (Associação Nacional de Pós-Graduandos) a partir de um trabalho de Edilaine Farias Alves, Marcello Henrique Araújo, Fabiana Araújo e Tatiana Tavares. “A pílula tem um grande valor para a sociedade por prometer curar o câncer e fizemos um estudo do que já foi publicado. Alguns centros de pesquisas começaram a desenvolver ensaios clínicos, mas ao longo dos testes os ensaios não apresentaram resultados esperados. São necessários mais ensaios clínicos para poder dizer se realmente é válido o uso dela”, explica Edilaine, bióloga e mestranda da UERJ.
Publicado originalmente no site da ANPG
Morte do pai e amputação não desanimam estudante na prática esportiva
Com o apoio de amigos e familiares, Vinícius colocou um sorriso no rosto, se apoiou no esporte e não foi vencido por barreiras
“Deus não coloca em nossas vidas peso maior do que podemos suportar.” Esta frase popular é verdadeiro mantra utilizado por Vinícius Alves, de 21 anos, para viver com alegria e determinação depois de perder o pai, vítima de câncer, e ter uma das pernas amputadas em consequência de um acidente de trânsito. Há quase quatro anos, ele foi atropelado por um motorista embriagado, que dirigia uma Kombi desgovernada.
Estudante de educação física, ele é exemplo de superação para quem convive com dramas parecidos. Multiatleta, Vinícius encontrou no esporte a saída para se reerguer.
Lutador de muay thai, jiu jitsu e boxe, o auxiliar comercial também arrisca manobras no slackline – esporte de equilíbrio sobre uma fita de nylon –, nas pracinhas dos bairros Alípio de Melo e Castelo, em Belo Horizonte. Além disso, ele mostra talento no vôlei sentado, modalidade para deficientes físicos.
“Nunca perdi a vontade de viver. Quando estava no hospital eu só queria sair da cama e praticar alguma atividade”, conta o paratleta, que na próxima quarta-feira viaja para São Paulo, onde vai competir pelo vôlei sentado. “O esporte me faz sentir útil, me deixa bem mais calmo, alivia a alma e o coração. Além disso, faz bem para a saúde”, observa .
Antes do acidente, Vinícius, que já era adepto da prática esportiva, se arriscou no futebol. “Tentei jogar profissionalmente, no Rio de Janeiro. Atuei no Americano (de Campos) até o juvenil”, lembra. Vinícius decidiu interromper o sonho e voltar para a capital mineira, onde nasceu, para cuidar do pai, com câncer.
E foi a partir desse momento, num curto intervalo de tempo, que o paratleta viu a vida desabar. A primeira perda aconteceu em 2011, com a morte do pai, que não resistiu à doença. A segunda, pouco depois, quando voltava para casa, após comemorar o aniversário do irmão Aírton, aconteceu o atropelamento.
“Estava com a minha ex-namorada na rua de casa quando uma Kombi veio em nossa direção. Tirei ela da frente do carro e fui atingido”, relembra. “Caí dentro do córrego e os médicos acharam melhor amputar a perna devido a contaminação da água suja do local”, justifica.
Com o apoio de amigos e familiares, Vinícius colocou um sorriso no rosto, se apoiou no esporte e não deixou ser vencido pelas barreiras. Do Serviço Único de Saúde (SUS), ganhou uma prótese “bem mais ou menos”, como diz. Querendo melhor a mobilidade, ele usou recursos próprios e comprou uma prótese nova.
Histórias engraçadas
Ainda em período de adaptação, Vinícius coleciona histórias inusitadas com o novo equipamento. “Teve uma vez que eu estava jogando futebol, driblei um marcador e chutei para o gol. O detalhe é que a bola ficou e a minha perna foi arremessada”, conta, às gargalhadas.
Publicado originalmente no Hoje em Dia
Torcidas progressistas: futebol é lugar da diversidade e transformações
Um raio x das torcidas que acreditam que futebol e política se misturam, sim, e que querem transformar o estádio em um lugar para todos
Apaixonados pelo futebol, torcedores estão se organizando também para derrotar o racismo, a homofobia e o machismo, e para fazer coro contra a elitização do esporte. Ainda são minoria e estão longe de vencer os gritos de guerra preconceituosos, a violência gratuita e os elevados preços dos ingressos. Mas as torcidas antifascistas e progressistas são um fenômeno que cresce nas redes sociais e nos estádios de Minas Gerais.
América, Atlético e Cruzeiro, principais times da capital mineira, possuem suas torcidas organizadas antifascistas e progressistas que lutam por transformações. Mas que por vezes se confundem com outras torcidas que utilizam símbolos políticos quase que exclusivamente por provocação e rivalidade. A bandeira do Cruzeiro, que traz a estampa do argentino Ernesto Che Guevara, por exemplo, gerou a absurda reação da torcida do Atlético pela bandeira com a imagem do militar e ex-presidente boliviano René Barrientos, assassino de Che.
A imagem do líder da Revolução Cubana em azul começou a ser levantada por cruzeirenses em 1991, por uniões em torno da torcida CGE (Comando Guerreiro do Eldorado). Lideranças da torcida afirmam na época que a imagem de Che foi escolhida para representar a periferia do lado oeste de Belo Horizonte. Mas o símbolo ganhou força depois que o Atlético perdeu a final da Conmebol para o Rosário Central, em 1995, pelo fato de o argentino Che Guevara ter nascido justamente na cidade de Rosário. Como resposta, um grupo de atleticanos começou a usar a bandeira do ditador Barrientos.
Mas, longe dessa despolitização, os coletivos progressistas no futebol são convictos das causas que defendem e unificados em diferentes pautas contra o conservadorismo. “Já fazíamos parte da Seita Verde e vimos a necessidade de espalhar nossas ideias políticas para a torcida americana, tendo em vista o avanço dos reacionários em nosso país, incluindo o futebol”, disse João Victor Lopes, membro do núcleo América Antifa, da Seita Verde.
Formada por anticapitalistas, a torcida Resistência Azul Popular (R.A.P), do Cruzeiro, foi criada em 2015 com um protesto contra a Minas Arena, gestora do Mineirão, junto com os barraqueiros do estádio. O estatuto da R.A.P. afirma que “Temos como objetivo não ser um coletivo separado do povo, compreendendo sua pluralidade, temos nossos princípios e pautas. Contra qualquer tipo de opressão, autônomo, apartidário (mas não contra partido) e horizontal. Somos contra a crescente elitização do futebol que segrega quem sempre esteve ao lado do Cruzeiro, um estatuto que cria um Cruzeiro centralizado, arbitrário que impede novas pessoas para debater e gerir o Cruzeiro e os preconceitos que no ambiente do futebol estavam sendo reproduzidos. Isso somado com nossa maior paixão que é acompanhar os jogos do Cruzeiro”.
O respeito e o fim da homofobia são uma das pautas defendidas por torcidas progressistas. Em 2 de julho deste ano, Atlético e Cruzeiro se enfrentaram no Estádio Independência pelo Campeonato Brasileiro, mas o que chamou a atenção antes da partida foram mais exemplos de homofobia. Faixas na entrada do bairro Horto provocavam os cruzeirenses com a frase “Sejam bem-vindas”, com as cores do arco-íris, símbolo dos movimentos LGBTI, misturadas às cinco estrelas, símbolo do Cruzeiro.
A torcida Galo Marx, com 4.330 curtidas no Facebook, repudiou a atitude em um post com 405 compartilhamentos até o fechamento desta reportagem. Procurada pelo O Beltrano, a torcida Galo Marx não concedeu entrevista, alegando estarem passando por uma reestruturação.
Mas, atos homofóbicos são repudiados pelos movimentos progressistas mesmo antes do ocorrido em julho. “Lutamos para que o futebol não tenha opressão, como racismo, machismo, lgbtfobia, xenofobia, fascismo e qualquer outro tipo de preconceito”, afirma a R.A.P. Essa linha é seguida também pela torcida América Antifa. “Somos uma torcida antifascista, contrária ao sexismo, homofobia e racismo”, disse João Victor Lopes, membro da torcida americana desde 2014.
Combater a homofobia, o sexismo e o machismo também são pautas do coletivo feminista Grupa, da torcida do Atlético. “Nascemos protestando contra o machismo, e não iremos deixar passar homofobia e nem racismo também. O futebol se pauta muito nesses temas, chamando de rivalidade aquilo que é exercício de preconceito. Dá para torcer e praticar a rivalidade sem excluir“, afirmam as participantes do coletivo.
Segundo o coletivo Grupa, as mulheres são agredidas e ofendidas nos estádios por olhares e perguntas irônicas, “como pedir a escalação de 78 ou para explicar a regra de impedimento” (as integrantes do Grupa pediram para que as respostas, mesmo as opinativas, fossem atribuídas ao coletivo). “A maior dificuldade é que cansa. Muitas vezes estamos exaustas de nos sentir excluídas ou ofendidas por ações machistas, e quando nos posicionamos, somos atacadas pessoalmente. Nos cansamos de nos expor e as coisas continuarem acontecendo. Nos cansamos de afirmar o que está errado e, mesmo com a nossa coragem, ouvirmos que somos ‘vitimistas’. A maior dificuldade é que muita gente acha que um posicionamento político de minoria é apenas ‘mimimi’, sem perceber a importância que temos na transformação do mundo”.
Além das arquibancadas, o machismo também está nos próprios clubes. “Lutamos por igualdade na distribuição do material esportivo para venda. É muito comum não oferecerem a nós a quantidade de produtos que são oferecidos aos homens. O argumento principal é de que a torcida masculina é maior. Pois sim, mas se não tiverem reconhecimento e investimento na torcida feminina, de que forma ela irá crescer?”, questiona o Grupa.
Na entrada do setor amarelo, perto das barracas de bebidas e comidas, apelidado de “Esquina da R.A.P”, o grupo celeste se sente no caminho certo, mas sabe que ainda falta muito. “Sabemos dos passos que temos que dar, que às vezes parecem pequenos para quem vê de fora, mas são passos juntos com o povo, o que é melhor que dar mil sem o povo”, diz um dos membros do grupo, que também pede para que as respostas sejam atribuídas ao coletivo.
Uma das dificuldades encontradas para impedir atitudes preconceituosas nos estádios é a falta de apoio dos clubes e ações efetivas das federações de futebol do país. “(Os clubes devem) realizar campanhas ativas contra essas práticas (preconceituosas), incentivar que o torcedor denuncie quem estiver realizando essas ações para que seja retirado do estádio e responsabilizado pela conduta”, diz outro membro da R.AP.
A atuação das torcidas antifascistas e progressistas já mostram alguns resultados. O coletivo Grupa, por exemplo, surgiu como manifesto contra o desfile de apresentação dos novos uniformes do Atlético para a temporada 2016. “Com alto teor machista, uniu diversas mulheres que sentiram desrespeitadas com aquilo”, alega o coletivo, que comemora o avanço no desfile de 2017. “Esse ano já colhemos resultados. O Galo nos escutou e fez um desfile com maior diversidade, sem sexualizar as modelos e apresentando coleção feminina”.
O coletivo Grupa também é importante para mulheres que não se sentem seguras de ir aos estádios, se unindo para ocupar as arquibancadas. “Procuramos assistir juntas, mas não temos necessariamente uma predileção de portão. Sempre divulgamos antes no twitter onde vamos nos encontrar e em quais portões estaremos concentradas”, afirmam. “A Grupa enfrenta o machismo se unindo. Como vamos juntas, criamos um ambiente mais seguro e acolhedor. Muitas pessoas já vieram nos dizer que ‘abriram a cabeça’ por falas nossas. Então, buscamos ser muito assertivas nas nossas afirmações”.
A torcida América Antifa também apoia as mulheres no futebol e elogia o fato do clube manter um time feminino. “Acho que está mais do que provado que política e futebol se misturam sim, e por isso os times devem dar o exemplo. Nos orgulhamos do América ter um time feminino. Algo que alguns clubes não valorizam e que deviam passar a valorizar”.
No Cruzeiro, a participação da ONG AZMina levou o clube a ganhar troféu na França. O time mineiro fez uma parceria com a instituição sem fins lucrativos para o Dia Internacional da Mulher deste ano que resultou na campanha #VamosMudarOsNúmeros, vencedora do Prêmio Leão de Bronze, categoria Meios de Comunicação, no Festival Internacional de Criatividade de Cannes. Os jogadores entraram em campo contra o Murici-AL, pela Copa do Brasil, com camisas usando os números dos jogadores para alertar a violência contra a mulher.
Mesmo com o prêmio, a torcida R.A.P não se sente satisfeita com as atitudes do clube para vencer os preconceitos. “Recentemente o Cruzeiro fez uma campanha sensacional no dia internacional da mulher, chegando a ganhar um prêmio internacional. Ao mesmo tempo, o Cruzeiro engrossou a fila dos clubes que não fizeram nada no dia do orgulho LGBTTTQI. Internacional e Flamengo postaram em suas redes oficias mensagens de apoio à diversidade sexual. Em relação ao racismo, o Cruzeiro não foge da média e realiza campanhas pontualmente quando um jogador é hostilizado”, critica.
Para encurtar essa distância entre torcida, respeito e clube, a R.A.P defende maior participação dos torcedores nas direções dos clubes. Além disso, a torcida questiona a crescente elitização no futebol. “Somos contra o futebol de negócios que elitiza o esporte através do mercado, se apropriando do futebol e mudando suas características para gerar lucro. Temos um trabalho constante de estudos e ações contra o Minas Arena. Apoiamos o Cruzeiro democrático e popular: lutamos para que o torcedor possa participar das decisões do clube e para isso estamos montando um seminário com a presença do ‘Povo do Clube’, movimento da torcida do Internacional de Porto Alegre, que conseguiu que sócios torcedores pudessem votar e participar do conselho. Queremos também criar esse movimento no Cruzeiro”, defende a R.A.P.
O seminário ocorrerá em 19 de agosto, no Centro de Referência da Juventude, na capital mineira. “Não existe democratização sem popularização. Democracia só para quem tem dinheiro tem outro nome, plutocracia. O princípio da ideia da democratização é para voltar a festa popular que existia no Mineirão. O Cruzeiro tem em sua origem trabalhadores imigrantes, principalmente da construção civil, que com o tempo foi agregando também os trabalhadores brasileiros e sua torcida sempre foi maior nas regiões periféricas de BH e nas cidades da região metropolitana”, diz um trecho do convite para o seminário no Facebook.
“O futebol retrata a cultura machista brasileira. É um ambiente de afirmação masculina, ‘coisa de macho’”, afirma o coletivo Grupa sobre a participação feminina no futebol. Elas também cobram mais decisões em prol do público feminino. “Conseguir entrar, ser respeitadas, nos sentirmos seguras, que nossas opiniões façam diferença, que os produtos e ações do clube também nos levem em consideração. Isso tudo impacta no nosso espaço dentro da sociedade”.
João Victor diz que o posicionamento político dentro dos estádios ainda não é entendido ou aceito por todos. “Existem pessoas contrárias à associação da imagem do clube ou da torcida a temas políticos. Mas procuramos sempre nos explicar educadamente. A vantagem é que alcançamos muitas pessoas e, pelo menos, fazemos algumas delas refletirem sobre temas que consideramos importante. Quem sabe não estamos plantando a semente da mudança na cabeça de algumas delas?”.
“Alcançar muitas pessoas”. Este é o objetivo é partilhado pela torcida R.A.P e pelo coletivo Grupa. “Pautamos nossas ações em busca de um ambiente melhor para todas e todos, principalmente no campo e na arquibancada. Falamos isto porque vemos que quando a bandeirinha é mulher, ela sofre xingamentos referentes ao seu gênero, e a torcedora também. A maravilha de um coletivo é que ele te abriga. Muitas pessoas que entram, acabam encontrando um ambiente forte de sonoridade e uma rede de apoio. Recebemos muitas mensagens positivas”, afirma o Grupa.
A R.A.P., fora de campo, participa de panfletagens, reuniões e protestos políticos. “Já realizamos reuniões e exibições de filmes nas sedes das organizadas, estivemos ombro a ombro no caso do assassinato do Eros (segundo a Polícia Civil, o torcedor morreu eletrocutado em 26 de outubro de 2016 quando o Cruzeiro enfrentou o Grêmio) com a Pavilhão Independente, e temos contatos para realizar atividades com outros comandos. Fizemos rodas de debate sobre os efeitos da Copa numa escola ocupada. Uma vez por mês escolhemos o ‘jogo da RAP’, que vamos panfletando e levamos faixas de protesto para a entrada do Mineirão. Já realizamos uma campanha para levar os haitianos num jogo do Cruzeiro, e com isso trabalhamos a questão da xenofobia. Levantamos o debate da Minas Arena,contra a elitização do futebol. Fizemos um protesto em frente a sede do Cruzeiro contra o Perrella (Zezé Perrella, senador pelo PSDB-MG e ex-presidente do Cruzeiro) para mostrar o quanto é fechado e arbitrário o Conselho Deliberativo do Cruzeiro”.
Os protestos também acontecem mirando a política nacional, como aqueles contra o presidente Michel Temer, alçado ao posto após o golpe sofrido pela ex-presidenta Dilma Rousseff (PT-RS). “É bom ressaltar que nossa torcida é apartidária, mas sempre lutaremos contra qualquer governo que queira retirar direitos e conquistas do povo, e o Michel Temer é um desses presidentes. Não vamos lutar para que um partido x ou y chegue ao poder, mas não vamos ficar parados vendo esse governo assaltar o povo. Já levamos faixas para o Mineirão contra o Temer e estivemos presentes nos atos da Greve Geral”, posiciona a torcida R.A.P. Formada por comunistas, anarquistas e esquerdistas, a América Antifa vai na mesma linha. “Não reconhecemos o governo ilegítimo de Michel Temer, que foi estabelecido por meio de um golpe parlamentar”.
As divergências entre os movimentos são nítidas apenas no amor por cada clube, mas americanos, atleticanos e cruzeirenses estão unidos por um futebol e uma sociedade mais justa. “Enfatizamos, diariamente, que o lugar da mulher é onde ela bem quiser, seja em casa, na rua ou no estádio. A nossa luta é por representatividade e reconhecimento”, afirma o coletivo Grupa. “Sabemos que a revolução virá das arquibancadas”, finaliza a R.A.P.
Publicado originalmente no Portal O Beltrano
Zé Carlos elogia Fábio, que se tornará o número 1 em partidas com a camisa do Cruzeiro
Recordes existem para ser quebrados, mas nem todos os ex-recordistas ficam chateados com a perda do reinado. É o caso do ex-jogador e ídolo celeste Zé Carlos, atleta que mais vestiu a camisa do Cruzeiro: em 633 oportunidades. Esta marca expressiva está muito próximo de ser quebrada pelo goleiro Fábio, sábado contra o Vasco.
Com a camisa azul, Zé Carlos conquistou 12 títulos, sendo os principais a Taça Brasil em 1966, conquistada com uma goleada por 6 a 2 sobre o mítico Santos de Pelé, e a Libertadores de 1976, com um gol antológico de Joãozinho em cobrança de falta.
Com um currículo vencedor na Raposa, o ex-jogador não vê problema em Fábio ultrapassá-lo, pois o craque sabe que tem o seu nome marcado na história do Cruzeiro.
“Não sou orgulhoso o bastante para ficar chateado em ver o meu recorde batido. A minha fase já passou, conquistei muitos títulos com o Cruzeiro e até hoje sou reconhecido por tudo que fiz. O clube foi me buscar em Juiz de Fora e eu sou grato, fiz a minha parte”, diz o antigo ídolo da torcida celeste.
Antes de ultrapassar Zé Carlos e se firmar como o jogador com mais partidas na história do clube, Fábio deixou outro ídolo estrelado para traz. O goleiro Raul Plassmann, presente nas conquistas de 66 e 76, já havia perdido o posto de goleiros com mais partidas nos 94 anos de páginas heróicas e imortais.
“O Fábio é um excelente goleiro, merece esse momento por tudo que já fez pelo Cruzeiro, e que isso sirva de exemplo, pois ele tem muita dedicação ao clube. Os atletas de hoje não dão a mínima para o clube, só quando precisam mesmo”, critica Zé Carlos.
IDENTIFICAÇÃO
Zé Carlos ainda destacou que o goleiro da Raposa conhece muito bem o clube, além de ter um bom caráter. Desde sua primeira passagem pela Raposa, em 2000, o camisa 1 já acumula 11 anos. Ao todo são oito títulos, incluindo o bicampeonato Brasileiro em 2013/2014.
“Ele (Fábio) tem uma história linda no clube, é um ídolo, e não é apenas pelo número de jogos, tem também o lado pessoal do cara. Ele é íntegro, tem um caráter excepcional e conhece muito bem o Cruzeiro. Com certeza, tem muita história pra contar. Qualquer jogador que fique mais de cinco anos em um clube vai ter”, disse o ex-jogador.
E por falar em histórias, Zé Carlos também tem várias do seu tempo de atleta, afinal de contas são 20 anos como jogador profissional, 12 deles dedicados ao Cruzeiro ao lado dos companheiros e amigos de duas gerações diferentes, que contou com Dirceu Lopes, Piazza, Tostão, Perfumo, Joãozinho, Palhinha e Raul. Este ultimo inclusive lembrou de um lance de Zé Carlos em um clássico contra o Atlético em 1967.
“Tem muito jogo e histórias nesses 633 jogos do Zé, mas um jogo marcante foi contra o Atlético. Estávamos perdendo de 3 a 0 no Mineirão lotado (110 mil presentes), ai o Tostão machucou e o Zé Carlos entrou no lugar dele e o Procópio foi expulso. Ai empatamos o jogo com um homem a menos, e no último minuto de jogo foi falta para a gente. O Zé Carlos cobrou e mandou a bola no travessão do Hélio (goleiro do Atlético) e o jogo acabou. Foi um jogo épico. Se a bola entra seria uma virada incrível”, lembrou o ex-goleiro que defendeu a meta celeste em 549 oportunidades.
Zé Carlos ainda falou sobre o atual momento do clube celeste e elogiou o treinador da Raposa, Vanderlei Luxemburgo, que retornou após 11 anos de sua última passagem, entre 2002 e 2004.
“Luxemburgo muito vibrante, um bom treinador, inclusive um dos melhores do Brasil. Ele vai da outra movimentação ao time, mas briga por títulos só na próxima temporada”, finalizou.
Publicado originalmente no Hoje em Dia
ANPG realiza ato pelas Diretas Já e SBPC se posiciona a favor
“Um, dois, três, quatro, cinco mil, se corta na ciência não avança o Brasil”, gritaram as centenas de pessoas na Escola de Engenharia da UFMG durante ato pelas eleições diretas da ANPG
“O conselho da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) já se manifestou em favor das eleições diretas”. A afirmação é do presidente de honra da SBPC, Ennio Candotti, durante o ato “Cientistas e Pesquisadores pelas Diretas Já”, agenda do V Salão de Divulgação Científica da ANPG (Associação Nacional de Pós-Graduandos). A associação de pós-graduandos havia cobrado um posicionamento da SBPC por meio de uma moção que, segundo Ennio, será aprovada nesta quinta-feira em Assembleia da entidade na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
O ato também teve representações de diversas entidades e personalidades, como a Tamara Naiz, presidenta da ANPG, a deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG); Marianna Dias, presidenta da UNE (União Nacional dos Estudantes); Ronald Santos, presidente do CNS (Conselho Nacional de Saúde); Jhonatan Almada, Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação do Maranhão; Sandra Regina, vice-reitora da UFMG; o professor Paulo Sérgio Lacerda Beirão, diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação; Valéria Morato, CTB/MG (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil); Sabrina Teixeira, CUT/MG (Central Única dos Trabalhadores); e Carlos Wagner, ABCMC (Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência).
Em maio deste ano o Governo Federal reduziu o orçamento da ciência em 44%, um corte de R$ 2,2 bilhões no financiamento de R$ 5 bilhões que o governo havia proposto originalmente para 2017. Os cortes e as políticas conservadoras na educação, previdência e trabalhista se unificam para a luta das eleições diretas. “Nós concluímos neste semestre um momento em que sofremos os mais duros golpes de perda de direitos e da democracia. Terceirização, sanção da reforma trabalhista, ataque a democracia e corte financeiro. (…) Israel investe 4,3% do PIB em inovação ciência e tecnologia. O Brasil em 2016 investiu 1,3% e neste ano a tendência é a mais absurda ameaça à ciência com o contingenciamento de investimentos”, explica Jô Moraes, sobre a urgência do Brasil ter eleições diretas.
Os cortes nos investimentos da ciência e tecnologia vão na contramão do progresso através de novas descobertas feitas a partir de pós-graduandos, mestrandos, doutorandos, cientistas e pesquisadores, como explica Beirão. “Não há nenhum país desenvolvido sem uma base sólida de investimento em educação na ciência e tecnologia. O Brasil estava construindo uma base na ciência e não podemos perder isso. Na década de 50 o Brasil tinha muita desnutrição e foi acabando através de ciência e tecnologia e hoje a gente exporta comida. O Brasil conseguiu algo único, explorar nossa plataforma e achar petróleo no fundo do mar há mais de 7 km de profundidade, o pré-sal. Isso é ciência e tecnologia”, pontua o professor. “Tudo isso está sendo jogado no lixo por causa de uma gangue de assaltantes”, finaliza.
Segundo os convidados, só há um antídoto para superar todo o retrocesso, que é através da democracia e da soberania popular através do voto direto. A ideia também é compartilhada pela UNE. “Junto com a UNE e UBES, a ANPG é a entidade que defende os estudantes e tem o dever de se posicionar para tirar Michel Temer e a política de retirada de direitos. Podemos sim ter um Brasil melhor e a gente conclama que essa bandeira de Diretas Já seja de prioridade. Queremos defender o povo. A saída é o povo decidir os rumos do país e decidir uma nova política que respeita os trabalhadores, estudantes e sociedade em geral”, diz Marianna Dias, reforçando o coro pelas Diretas Já.
Publicado originalmente no site da ANPG
Frente Povo sem Medo defende a resistência nas ruas
Palavra de ordem é ação direta; greve Geral promete parar o país no dia 30 de junho
O desafios do campo democrático na atual conjuntura política foram debatidos durante o 55º Congresso da UNE (CONUNE) nesta sexta-feira (16). A solução apresentada para enfrentar as crises e a luta pelas Diretas Já foi a resistência. Essa é a bandeira levantada pelo líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos, também membro da Frente Povo Sem Medo, que participou de uma mesa junto a outros movimentos e partidos políticos..
Boulos entende que o caminho para as eleições diretas não é fácil. Segundo ele, mesmo com a unidade de movimentos, um grande desafio é angariar mais pessoas para as ruas. “Nós temos feito mobilizações importantes pelas diretas, mas ainda são insuficientes. Nós temos que ser capazes de botar mais e mais gente nas ruas para dar resposta e dar solução. Só isso faz com que a PEC das Diretas seja aprovada”, afirmou.
O membro da Frente Povo Sem Medo também criticou o que considerou oportunismo dos que usam as eleições diretas com outros propósitos, citando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), autor de uma carta recentemente defendendo as Diretas. “Temos que ampliar para todos setores, não necessariamente só a esquerda. Mas o FHC não defende as diretas. Ele deu essa declaração por estar vendo que o nome dele tá embaixo nas indiretas. Até outro dia ele estava costurando apoio parlamentar para se eleger por via indireta”, declarou.
Aos gritos de “ocupar, resistir e construir”, entoado pelos estudantes presentes no debate, Boulos defendeu a tomada das ruas pelo povo.
“Esperar uma solução via congresso nacional pela boa vontade dos deputados e senadores é acreditar em duende. Esse congresso está de costas para a sociedade. A única chance de nós interrompermos o mandato do Temer e ao mesmo tempo não permitir uma solução de acórdão por cima é com a voz das ruas se impondo”,afirmou.
O líder do MTST citou a união de movimentos, inclusive os estudantes, em atos para barrar as reformas da previdência e trabalhista, alcançando o objetivo das eleições diretas, como na próxima Greve Geral convocada para o dia 30 de junho em todo país. “Essa unidade que se expressou no dia 24 de maio, com 150 mil pessoas em Brasília, tem que se fortalecer cada vez mais. Os sem-teto têm que parar rodovias e avenidas desse Brasil, fazer piquete. A juventude tem que parar as escolas e as universidades junto com os professores”, convocou.
Publicado originalmente no site da UNE
Taekwondo vence bronquite e auxilia na autoestima
Faixa vermelha com ponteira preta no taekwondo – segunda maior graduação da modalidade – e com 17 medalhas conquistadas em nove anos de prática, Sabrina Rodrigues leva uma vida saudável. Mas a trajetória da garota, de 16 anos, nem sempre foi assim. A menina de Santa Luzia, na Grande BH, passou por complicações na infância devido a uma bronquite crônica, e foi orientada pelos médicos a praticar esportes.
Filha de seu Adilson e dona Mônica, ela sofria com falta de ar e estava sempre cansada. “A bronquite me deixava exausta e eu tinha que evitar friagem, cheiro forte e mofo”, lembra. O tratamento de Sabrina era caro e ela usava, em média, três bombinhas de ar por mês. “Nem sempre tínhamos dinheiro para comprar os medicamentos. Os antialérgicos e as bombinhas custavam caro, mas eu não podia ficar sem eles”, salienta.
Por insistência da pediatra, a estudante do segundo grau do ensino médio começou a praticar taekwondo, aos 7 anos, como saída para o abatimento de que era vítima.
Nove anos depois do primeiro contato com o esporte, na ONG Arel, a jovem se sentiu aliviada. “Além de me ajudar a superar os problemas alérgicos, hoje estou em excelente forma física e com a autoestima elevada”, conta a garota, entusiasmada.
Vencendo a timidez
Os benefícios do esporte na vida de Sabrina não param por aí. Além da questão física, a atividade despertou outras características na jovem. “Na infância, eu era uma pessoa tímida. Através do esporte passei a me comunicar melhor. Hoje tenho muita vontade de vencer, no esporte e na vida pessoal”.
Se depender da força de vontade de Sabrina, conquistar seus objetivos vai ser questão de tempo. Além do taekwondo e da escola tradicional, ela cursa inglês e informática. Também sonha em atuar como modelo.
“Fiz algumas fotos, mas não investi na carreira por falta de condições financeiras. Minha prioridade é o estudo”, afirma. Mesmo diante das dificuldades, ela não desiste. “Ainda pretendo ser modelo e conseguir a faixa preta no taekwondo”, planeja.
Competições fora
Com determinação e garra, Sabrina também já participou de campeonatos em outros estados e coleciona histórias. Apesar de não ter conseguido medalha em um torneio em São Paulo, a jovem teve a oportunidade de conhecer alguns parentes.
“Tinha alguns tios e primas que eu não conhecia e eles foram me ver na competição. Eles me procuraram entre os atletas e por coincidência uma prima chegou para mim e perguntou se eu conhecia a Sabrina Chaves”, diverte-se.
Os parentes conheceram Sabrina, que encontrou no esporte uma vida “saudável” e “o respeito”, como ela mesma diz. A atleta faz questão de incentivar outras pessoas que deixam de lado seus sonhos por causa das dificuldades. “Vá em frente, seja perseverante e leve a sério o que está fazendo que o esporte ajudará a resolver os seus problemas”, encoraja.
“Na infância, eu era uma pessoa tímida. Através do esporte passei a me comunicar melhor. Hoje tenho muita vontade de vencer, no esporte e na vida pessoal”.
Publicado originalmente no Hoje em Dia
"Primavera": filme apresenta personagens das ocupações secundaristas
Produção traz depoimentos dos secundaristas que ocuparam as suas escolas no Brasil entre 2015 e 2016 contra a proposta de reorganização escolar, a reforma do ensino médio e a PEC 55
Destacar as mudanças vivenciadas pelos estudantes responsáveis pelo maior movimento de ocupações da história da juventude brasileira. Essa é a proposta dos cineastas Ana Petta e Paulo Celestino, diretores do documentário longa-metragem “Primavera”, iniciativa independente da produtora Clementina Filmes.
O longa, em fase de finalização, traz um olhar inédito da convivência coletiva entre os jovens durante as ocupações, a política e a escola. “Acompanhei o movimento como cidadã, pude ver de perto a organização, aquilo me encantou. Em 2016, fui à ocupação do Colégio Estadual Central, em Belo Horizonte e a fala do pessoal foi muito tocante. Daí veio a ideia de fazer um filme que contasse um pouco das transformações internas e externas desses jovens”, afirma Ana Petta, que foi diretora da UBES em 1993.
A produção do filme usou as redes sociais para encontrar estudantes que ocuparam suas escolas em diferentes cidades, como Natal, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. O método teve como inspiração o trabalho do documentarista brasileiro Eduardo Coutinho “Utilizamos esse anúncio público convidando estudantes para contar, de frente a uma câmera, as suas experiências”, explica a diretora, que não fazia ideia das histórias que foram surgindo ao longo das gravações.
Para Petta, cada relato foi um grande aprendizado a partir da evolução encontrada na experiência dos jovens. “O mais impressionante é como as pessoas saíram do processo das ocupações. A transformação pessoal é muito profunda, perceptível”, relata. “O maior desafio foi ultrapassar o discurso comum e conseguir encontrar uma fala mais pessoal, única, como a ocupação mudou cada um de uma forma diferente. A pessoa se transforma e transforma o mundo com uma experiência coletiva”.
O filme contribui para dar uma dimensão histórica do que foi a Primavera Secundarista, também, para as próximas gerações. “É algo inédito, muito forte e muito importante. Foi um grito dos estudantes em defesa da escola pública, o entendimento de todas as transformações que estão ligadas na relação estudantes e escolas. Os alunos se apropriaram das escolas e cuidaram delas”, ressalta a diretora.
Para a realização do filme, foram entrevistados dezenas de estudantes de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Paraná. Uma pluralidade de costumes com o mesmo anseio de uma escola mais democrática. Para a
finalização do filme, em breve será lançada uma campanha de financiamento coletivo no Catarse e, será necessária a mesma força coletiva das ocupações para a produção se tornar real.
A pré-estreia de “Primavera” acontecerá durante o 42º Congresso da UBES, entre os dias 29 de novembro e 2 de dezembro, em Goiânia. Durante o encontro, estarão presentes estudantes de todo o Brasil que participaram das ocupações. “São pessoas que saíram conscientes do seu papel político e social. Vão pensar coletivamente neste mundo cada vez mais individualista”, finaliza Petta.
Publicado originalmente no site da UBES
Recuperado, Guilherme está à disposição de Levir Culpi
“Tente outra vez”. A canção composta por Raul Seixas, em 1975, se encaixa perfeitamente na saga do meia-atacante atleticano Guilherme, que tenta se livrar de vez do vasto histórico de lesões musculares.
Recuperado de um estiramento na coxa esquerda, o camisa 17 alvinegro participa normalmente dos treinamentos na Cidade do Galo e está cotado para aparecer entre os titulares diante do Vasco, no próximo domingo. A partida, pela quarta rodada do Campeonato Brasileiro, acontece às 16h, no Independência.
A empolgação do jogador é tão grande que até a Seleção Brasileira continua na pauta da sua carreira. “De um tempo para cá, resgatei todos meus sonhos, e a seleção é um deles desde criança”, conta Guilherme. “Não preciso de lobby, de nada. Preciso jogar bola. Vejo uma chance boa de ser convocado, desde que eu faça por merecer”.
Contudo, como está afastado dos gramados há pouco mais de um mês, Guilherme terá que vencer a concorrência por uma vaga no meio do Galo. O argentino Dátolo, questionado por parte da torcida pelas últimas atuações, e Giovanni Augusto, que ganhou espaço a partir das finais do Campeonato Mineiro, são os principais concorrentes do meia, que não atua há seis partidas.
Inúmeras lesões
Com 16 contusões desde que chegou ao Atlético, em 2011, Guilherme já estava recuperado na semana passada, mas teve o ânimo de voltar aos gramados freado pelo bom senso do técnico Levir Culpi.
Agora, 100% recuperado, ele tem o aval do comandante e esbanja otimismo. “Depois que fiz todo trabalho, não existe preocupação”, diz o meia. “Tem que botar para jogar. Me sinto bem e pronto para o que der e vier”, afirma.
O atleta, cujo contrato com o Galo foi renovado até dezembro deste ano, ainda deixou claro que seu maior desejo é ter uma sequência grande de jogos e não sair mais da equipe.
O curioso é que, na época da renovação (março), o jogador de 26 anos sequer havia entrado em campo no ano, devido a uma lesão sofrida ainda em 2014.
A estreia do meia em 2015 aconteceu no dia 9 de abril, quando entrou no decorrer da partida contra o Santa Fé, pela primeira fase da Libertadores. De lá pra cá, o camisa 17 fez mais cinco jogos, sendo três como titular e entrando ao longo do jogo em outros dois.
Preparação
Na reapresentação do elenco, na tarde dessa quarta-feira (27), na Cidade do Galo, os jogadores do Atlético foram divididos em dois grupos. Enquanto os considerados titulares participaram de um trabalho tático em campo reduzido, os reservas foram para a academia. Depois, as atividades se inverteram.
Publicado originalmente no Hoje em Dia